Prestes a transbordar

8.4.17
Meu corpo já não aguenta mais tudo isso. As lágrimas estão ali, prestes a cair.


    Eu sempre fui de pensar demais. Meus pensamentos vacilam, uma montanha russa que vai de alegria pura e ingênua ao fundo de um abismo frio e escuro. Sempre fui de trazer os sentimentos pra mim, fortes e intensos, e me frustrar por eles, e pela falta deles.

    Basta uma fagulha dourada para me incendiar. Basta uma gota de orvalho para me congelar. Cuidado, garoto. Cuidado, garota. Um toque, e eu vou sorrir. Outro toque, e em lágrimas eu vou me debulhar.

    Abafo as vozes gritantes com ocupações. Afasto as emoções e me deixo levar. As coisas importantes não importam. Decidir pra quê? Deixa continuar.

    Me ocupar - correr pra lá e pra cá - sempre funcionou. Mas quando o sono falta e o corpo se esgota, e a mente não consegue mais segurar os limites que tanto ignorou, tudo rui, e a dor transborda, escorre, marca, conforta.

    A rotina está pensando em me matar. Meu corpo só a quer assassinar. As mãos sufocantes do tempo insistem em me enforcar.

    E o proveito, onde cabe aí? E todas as coisas que já desejei fazer, e o prazer, do começo ao fim?

    As obrigações estão me matando, e o sangue escorre por meus olhos, silencioso, no abuso do tempo ao meu corpo.
 
Developed by Michelly Melo. Edited by Sara M.